2 de abril de 2014

Sexo Frágil(izado)




Abro uma página de notícias e me deparo: "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”

Boquiaberta me questiono qual seria a melhor forma de classificar uma sociedade tão imunda e tão machista. Logo percebo que é algo inclassificável, inominável, a acima de tudo, indignador. Me assusta saber que o comprimento da roupa que eu visto pode ser um convite - ou uma porta escancarada - para um abuso físico ou auditivo.
Me assusta saber que nós, mulheres, ainda somos vistas como um objeto qualquer que pode ser pego ou jogado fora sem nenhuma cerimônia. Que somos tratadas como animais para o abate. Que somos vistas como produto de caça. Um sexo que é julgado o tempo todo. Se a é saia curta, ou se o batom é vermelho: piranha, vadia, quer chamar atenção. Se a saia longa: santa fingida, quer chamar atenção. Somos tão produto, que não é à toa que na roda de amigos no bar, a pergunta é: "E aí, já comeu?" Como se nossa carne fosse de vaca, ou o coração de galinha.

E no fim das contas, a verdade é que somos atacadas o tempo todo. Se não for em um abuso no metrô, então vai ser numa opinião pequena e machista. Somos atacadas quando não temos liberdade de escolha, somos atacadas quando o tamanho do shorts é considerado proporcional ao tamanho do nosso cérebro, somos atacadas quando não podemos andar as onze da noite, sozinhas na rua, com medo de sofrer um estupro. Somos atacadas quando estamos passando na rua, e temos que ouvir palavras chulas e ofensivas. Somos atacadas quando estamos feias, e muito mais quando estamos bonitas. E ainda que, quebrando o paradigma de "sexo frágil" em tantos outros aspectos, nossa imagem aos olhos de quem não sabe enxergar e só consegue ver, nos fragiliza cada vez mais.